22 fevereiro, 2011

Prioridades

Ele estava a trabalhar quando o telefone toca, como é seu hábito não lhe dá grande importância, segue-se pela ideologia de que assuntos importantes resolvem-se pessoalmente. No entanto ele desconhecia o que se estava já a passar .
Após alguns minutos de esquecimento de tal aparelho, o mesmo volta a mostrar que os seus circuitos estão a trabalhar em pleno fazendo jus á função para o qual foi concebido. Mais uma vez ele ignora, compenetrado naquilo que estava a fazer não lhe deu atenção, nem muito menos reagiu á anormalidade que é aquele som em intervalos tão curtos de tempo.
Continuou realizando aquilo que bem sabe, ignorando tudo aquilo que o rodeia, mostrando mais uma vez aquilo que o distingue de todos os outros. É ele um bom profissional e aquilo que faz é tem resultados mais do que positivos, contudo no que á sua humanidade diz respeito é uma pessoa muito pouco envolvida no mundo. Há ainda quem se questione, passado tantos anos, como se casou ou mesmo como manteve o seu casamento, uns em jeito de brincadeira, outros mais empenhados, mas todos faziam apostas de como era tal coisa possível.
O tempo passou e nunca mais talo dispositivo deu sinal de vida, vida ou actividade electrónica, até algumas horas mais tarde, mais concretamente cinco horas, estava já o seu dia no término quando um ruído nada habitual suou naquele escritório, um ruído que ele desconhecia, era o seu toque de mensagem, que apesar de fazer parte do seu telemóvel há já quatro anos, não fazia parte do seu mundo. Aquele ruído chamou-o a atenção, e desta vez, não conseguiu ignorá-lo, pela estranheza do toque? Talvez, ou então por pressentimento, quem sabe. A verdade é que não tardou a pegar no dito objecto. Entre algumas hesitações e o desconhecimento das várias funcionalidades da peça, lá conseguiu encontrar a caixa de mensagens, e suspirou um: -Até que enfim, não percebo nada desta coisa.
Mensagens Recebidas era cinco e nunca antes ouvira aquele ruído, o que o fez questionar como era possível, no entanto procurou aquela que o fizera desligar daquilo que fazia.
No remetente dizia, "Amor",(questiono-me se conhece tal palavra). Achou estranho, ela nunca havia mandado uma mensagem, abriu-a e a primeira frase paralisou-o, todo ele tremia e ele começava a questionar-se como era possível tal coisa acontecer. Ele já sabia, e mesmo assim foi indiferente. Era realmente verdade o que diziam dele, -Quando está a trabalhar é não vê mais nada á sua frente.
Deixou o telemóvel e recostou-se na cadeira de pele, aquela que lhe dava o poder. Olhou para o tecto e pensou. Como é possível, sou mesmo estúpido.
Voltou a procurar o telemóvel na sua secretária repleta de papeis tão importantes que agora não tinha interesse nenhum, voltou a ler sem ainda perceber como era possível. A mensagem dizia.
"Já nasceu, é uma menina como tanto querias. Tentei avisar-te mas não atendeste, queria mesmo que aqui estivesses, sabes como era importante para mim. Nunca pensei. Mas isto só confirma o que todos dizem. Para mim chega, esta foi a gota de água. Acabou. Já que não quiseste ver a tua filha nascer, vais vê-la apenas de duas em duas semanas. Quero o divorcio.".

by M.

9 comentários:

  1. Há situações que não se aguentam, que não são aceitáveis.

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  2. Para muita gente é um assunto a repensar...

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  3. Muito bom,o texto!
    Já agora...eu fazia o mesmo!
    Há situações imperdoáveis!

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  4. Situações destas não se perdoam!!! E isto dá que pensar, mesmo!

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  5. Um dos melhores textos que já li ultimamente! Muito bom! Dá que pensar! :)

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  6. Obrigado, é óptimo começar o dia com elogios assim...

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  7. Caraca, uma lição de vida mesmo. Aconteceu parecido, com meu pai...
    Adorei o blog, estou te seguindo!
    Beijos!
    http://joycenoelly.blogspot.com/

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