08 fevereiro, 2011

Dias iguais

Ele acorda, reza para por mais uns minutos extra enrodilhado em toda aquela roupa, toda aquela tranquilidade, tranquilidade de uma noite bem dormida, uma noite sem pesadelos, daqueles que lhe tem tirado o sono noites posteriores.
Hoje mesmo não controlando o sono que o faz fechar de novo os olhos ele sente-se forte para mais um dia, um dia descontrolado, cheio de desafios, cheios de preocupações.
Resiste á vontade de adormecer, implora pelas suas mais profundas motivações para se levantar e começar mais uma etapa.
A muito custo lá se consegue a fuga de lugar tão reconfortante como aquele. Dirige-se para a janela enquanto se desdobra em múltiplas arrumações, não havia ainda detectado a confusão em que o seu canto se tornara, talvez o excesso de melancolia o fizesse naqueles dias ter provocado tal caos.
Agora em frente a janela, estende a mão, sem perder um mínimo movimento da vizinhança, e agarra os binóculos, eleva-os até ao rosto, aproxima-os dos olhos enquanto os fecha e pensa. -Não, hoje é um dia diferente.
Afasta-se então da janela, dirigindo-se agora para a custosa tarefa que é cortar a barba, a sua tem já longas historias ocultas, faz dias que não acorda com tal vontade, faz dias que não sente vontade de viver de maneira diferente. Olha-se ao espelho, e surpreende-se com aquilo que se tem tornado, nem seus olhos são de fácil leitura nem seu rosto esconde aquilo faz, aquilo que de normal pouco tem.
Volta a pensar. -Não, hoje é um dia diferente.
Pega numa tesoura, não para se matar, não que não tenha vontade, mas ainda não é o momento, e começa a difícil tarefa.
Momentos volvidos e o telefone toca, enxugando a cara á pressa corre para não perder a chamada, e reza para que não seja um dia como os outros.
-Estou sim, bom dia.
-Tens dois minutos...
... piiiiiiiiiiii
Volta a pousar o telefone enquanto se ouve da boca dele. MERDA
Corre para a janela, senta-se naquela cadeira que lhe horas tem feito de companhia, estende a mão não á procura dos binóculos mas sim de algo mais.
Com a sua Type88 já em punho, coloca o olho sobre a mira, procura o alvo, e mais um ruído silenciado sai pelo cano.
Foi mais um dia igual a todos os outros.

by M.

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