14 maio, 2010

Tenho saudades tuas!

É sábado, está na hora na hora de jantar, como sempre oiço a minha mãe a chamar por mim, venham para a mesa meninos, é um final de tarde quente e seco, e como é hábito nesta altura do ano jantamos na varanda enorme que a tem a minha casa, um sítio ideal onde passo bons momentos. Aqui vou eu para a mesa, estou exausto porque os meus sábados são sempre assim, mas depressa me animo, o jantar é do meu agrado e o tempo está mesmo apetecível.
Os meus dias tem fugido da rotina, tenho vivido uma experiencia que não estava a espera, á cerca de um mês que a minha avó adoeceu e a família tem-se desdobrado em visitas ao hospital, no dia de ontem também eu foi visitá-la, mas o seu estado já não é de muita confiança, no entanto mantenho sempre a esperança de vê-la novamente naqueles grandes jantares que fazemos de vez em quando, onde toda a família se reúne só porque nos apetece, como estas reuniões me animam.
Por entre esses dias extenuantes que temos tido lá arranjamos tempo para o nosso tempinho em família, as refeições cá em casa são sagradas e não há um dia que alguém esteja sozinho a mesa, acho que isso é que torna a nossa relação tão especial, num misto de alegria e ao mesmo tempo de respeito, os temas de conversa não diferem do normal, o meu pai vai conversando com a minha mãe sobre aquele assunto que eu nunca consigo estar a par, sobre aquele senhor de que nunca me lembro o nome ou talvez que nunca vi, entre essas conversas lá está o meu irmão a reclamar porque o jantar não é do seu agrado, mas de que nos adianta reclamar, estou eu a pensar, mesmo que não goste temos de o comer, e lá continuo a comer aquele frango na brasa delicioso grelhado pelo meu pai, entre umas garfadas do arroz que tão bem a minha mãe sabe fazer, por fim, estou mesmo satisfeito, já chega, e arrumo os meus talheres, mantenho-me sentado á mesa como é habito, para a sobremesa temos gelado, mas nesta altura entra aquela parte chata de quem o vai buscar, este é o lado negativo de jantar na varanda, nunca estamos perto de nada, e como sempre estas coisas sobram sempre para os mais novos, entre um – Vai tu! – Não vais tu, eu já trouxe a água para a mesa! Eis que a árdua tarefa coube ao meu irmão, meio a resmungar mas lá foi ele, como sempre a muito custo, mas ele até gosta de gelado, é só o simples facto de ele estar habituado a reclamar com tudo.
A tarefa de servir é sempre minha, por isso agora é a minha vez de fazer algo. – Eu quero o meu com mais morango diz-me ele, e lá lhe faço a vontade.
Finalmente posso usufruir de mais uma coisa que gosto, gelado, humm, duas colheres á boca e eis que toca o telefone, oh não, pensei eu numa fracção de segundo, ele foi buscar o gelado agora é a minha vez, grrr, mas ainda tentei não ter de me levantar ao dizer-lhe, vai lá! Mas levei logo com um não, pois lá tive eu de o atender.
- Estou! Disse eu.
- Quem fala?
- O filho do Sr. João. (o meu pai recebe muitos telefonemas de trabalho lá em casa por isso geralmente é assim que respondo quando me perguntam quem é, se dissesse o meu nome iam achar que é engano).
- Eu gostaria de falar com o seu pai menino.
- Quem quer falar com ele por favor?
- É do hospital de São João. Não percebi de imediato o que estava a passar, mas no caminho até á varanda percebo que algo não é normal. Chamo o meu pai, e ao dizer de onde estavam a ligar vejo-os saltar das cadeiras, em menos de nada estamos todos, ao telefone, com o meu pai ouvindo aquilo que não esperávamos, ou melhor, até esperávamos mas não naquele momento.
Ele pousa o telefone, levanta a cabeça, pergunta-lhe a minha mãe, que se passa? O meu pai volta a baixar a cabeça, levanta novamente o telefone, e digita um numero que não consigo ver o qual, a expressão dele mudara, está sereno mas é obvio que algo se passa. – Estou! Diz ele para o telefone, suponho que teve a mesma resposta, mas logo ele continua, - Lurdes, a mãe “MORREU”, esta palavra acertou-me de tal forma que estou incrédulo, era a minha tia ao telefone, e ficou pior que eu, o meu pai tenta consolá-la mas uma coisa destas não é possível. Ele continua ao telefone tentando manter a calma, explicando a quem o ouve que não se pode fazer nada mas que é preciso reunir a família, combinaram então uma reunião para esta mesma noite.
A tal reunião de que eu falava gostar imenso, passou a ser uma reunião triste e da qual eu nunca me esquecerei, os dias seguidos a este não serão fáceis, mas tudo se ultrapassa.

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