22 dezembro, 2010

Desejos

Era eu ainda muito pequeno, tão pequeno que nem me lembro, e já tinha necessidades, quando algo não estava bem eu chamava pela minha mãe, de uma maneira diferente da de agora, mas era a única que conhecia, mais tarde tive vontade de começar a gatinhar para me deslocar á procura de algo, quando isso não era suficiente quis aprender a caminhar para me assemelhar aos demais.
Quando já sabia caminhar e percebi que isso não era suficiente, procurei chamar a atenção, aprendi a falar, depois disso continuei a querer muitas coisas, continuei a crescer, até ao dia em que ganhei vontade de ir á escola para aprender mais, mas ainda não bastava, aquilo que aprendia fazia-me ter vontade de querer ainda mais, e assim foi, comecei querer ter muitos amigos, foi crescendo pouco a pouco até ao dia em que desejei ter uma namorada, e assim foi, mas foi apenas mais uma das minhas conquistas.
Continuando a crescer, continuava a querer sempre mais, comecei a querer mais do que amigos, mais do que namoradas, mais do que simplicidades, comecei a desejar algo mais, comecei a querer algo menos exterior e mais interior, mais profundo.
Foi talvez uma das alturas da minha vida em que percebi menos aquilo que queria, perdia-me de desejos por efemeridades, por coisas sem valor, perdia-me por futilidades, e assim continuei por algum tempo. Tempo esse, necessário para perceber que havia deixado de crescer, e que estava a faltar um degrau nessa minha escada para o topo.
Um dia, num acordar diferente, encontrei esse degrau, desejei alcançá-lo. Mais uma das minhas metas, a qual foi atingida, por algum tempo posteriormente foi conquistando pequenos desejos, aprendi muito com esses mas cheguei a um ponto em que esses desejos deixaram de me fazer crescer.
Desci um degrau á procura de algo que perdera anteriormente, nesse patamar encontrei desafios que deixara escapar, comecei a perceber que não interessa o quanto subimos mas sim aquilo que subimos. Encontrei um patamar de paz, um patamar que me dava ligação para outros mais, deixei esse caminho por um tempo e foi procurando novos desafios noutros locais.
Passei assim muito tempo, tempo suficiente para aprender tudo o que tinha para aprender.
Comecei a desejar mais, comecei a perceber que o que tinha era muito mas não o suficiente. Percebi que havia um espaço que não estava fechado.
Voltei a pensar como nós humanos e eu em particular, somos insatisfeitos, como não conseguimos estar sem aprender, comecei a pensar naquilo que desejava quando era bebé, quando desejei caminha, quando desejei falar, quando desejei aprender, quando desejei ter muitos amigos, quando desejei ter uma namorada, quando desejei divertir-me, quando desejei tornar-me homem, quando desejei amar, quando desejei não perder esse amor, quando desejei não mais amar, quando desejei viver uma vida isolado até ao dia de hoje, em que depois de tanto ter desejado e de muito ter aprendido, eu continuo a ter desejos, desejos que irão ser satisfeitos mais cedo ou mais tarde mas que mais do que desejos, são degraus que me farão crescer.
Acordo agora todos os dias com um vazio dentro de mim, encontrei o desejo que outrora perdera, desejo agora muito mais, mais e melhor.
Desejo apaixonar-me e voltar a amar!

By M.

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