19 maio, 2011

A primeira vez

O sol raiava, era um dia de praia e como em todos outros dias eu seguia a minha rotina de verão, o calor já era muito para um dia acabado de nascer, sentia-se já o cheiro característico do verão, das pessoas dispostas a levantar cedo e rumar á praia.
Fazia eu o meu caminho, seguia normalmente aquilo que já á muito era o meu dia-a-dia, por entre pessoas apressadas para pisar a areia da quente praia por entre uma calçada cheia de pessoa apressadas como eu seguindo os seus caminhos que em determinado momento se cruzavam.
Como em todos os outros dias precisava de uma hora para fazer aquele caminho, por entre transportes públicos e algumas corridas nas ruas ensopadas de gente, aquele era o meu caminho e poucas vezes eu estava disposto a alterar aquela rotina.
Avistava já o meu destino quando foi abordado por um volto quase tímido que por entre dentes disparou uma frase que pouco imaginava ouvir "passa para cá dinheiro e telemóvel!".
Aquela frase entoou no meu cérebro como uma bomba criando o pânico que tentava esconder com a minha atitude calma.
Foi então que aconteceu aquilo que de hoje me arrependo, a primeira vez em que tudo aconteceu, foi naquela manha e que me tornou uma pessoa diferente.
Quando se vive numa cidade tão perigosa como esta está-se sempre preparado para tudo, ou pelo menos acreditamos determinadas alturas que sim, e eu tinha essa confiança que tinha o poder no meu bolso, e sem pensar duas vezes depois de ouvir aquelas palavras, levei a mão ao bolso e antes que pudesse agarrar aquilo que me pedira já sentia aquela faca na minha mão, e sem hesitar, num momento rápido e espontâneo a minha mão encostou-se-lhe ao peito, deixando-o tão perplexo como a minha reacção me proporcionara.
Infelizmente, a minha falta de jeito aliada ao nervosismo fizeram-me direccionar aquele objecto ao ponto mais imponente do ser humano, e aquele momento ficou gravado a ferros na minha memória, ver aquele ser á minha frente contorcendo-se sem nada poder fazer e eu ali continuava sem reacção.
Morrera pela primeira vez nas minhas mão uma criatura sem eu poder fazer nada, tudo por uma atitude não ponderada.
Depois de tudo aquilo eu tornei-me uma pessoa fria e sem escrúpulos e aquele fora apenas a minha primeira vitima, o sentimento de pureza que antes me defendia agora desaparecera e dera lugar á ideia de que quem faz uma vez pode fazer muitas mais.
Agora arrependido, culpo aquela primeira acção irreflectida como a causa para tudo aquilo que fiz.
Todas as atitudes que temos na nossa vida devem ser reflectidas principalmente as primeiras, pois são essas que nos defendem de começar mais do que um acto.

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