23 março, 2011

Ensaio sobre a minha cegueira

Acordo da cegueira que me consumia, olho a minha volta e perco a esperança que antes me fazia desejar todos os dias por ver as cores do mundo. Perdi as certezas de que o mundo em que vivia era muito melhor se fosse vivido a cores ao invés daquela escuridão que me ofuscava a alma mesmo em dias de muita alegria.
Durante muito tempo os meus olhos nada mais viam do que aquilo que eu queria que vissem, apenas as imagens geradas pela minha realidade mental eram uma verdade assumida e assim continuava sem sequer conhecer as cores de um mundo desconhecido.
Em verdade se diz que mais cego é aquele que não quer ver do que aquele que assim o ambiciona. Eu, agora digo, era um daqueles cegos que não queria ver, talvez por inocência, talvez por idiotice, no entanto eu estava ofuscado por uma mentira que levei muito tempo a perceber.
A cegueira é uma doença, contudo eu não estava doente, os meus olhos viam tão bem quanto os e um falcão em busca da sua presa, mesmo assim era incapaz de ver as verdades que se imponham sobre os meus olhos, estava formatado para ver apenas aquilo que queria, e assim vivi durante algum tempo, depois desse eu foi começando a abrir os meus olhos querendo ver o mundo, querendo ver as coisas em meu redor, querendo ver as realidades da dura vida, mas era incapaz de o fazer instantaneamente, por mais esforço que fizesse eu as forças eram nulas perante aquela gravidade gerada pelos sentimentos que afogavam a minha mente.
Continuava a viver a vida como sempre o tinha feito, continuava a ser eu mesmo, sendo original, sendo quem eu podia ser, sendo apenas mais um acreditando na infinita verdade das pessoas.
Por vezes era dopado de tal maneira pela vontade insistente em fechar os olhos que desejava não voltar a ver novamente, sonhava nessa alturas que tudo não fosse mais do que uma realidade imaginada, mas eu era capaz de ser mais do que essa vontade, eu mantinha-me sóbrio em relação aquilo que me fiz jurar, e as forças para lutar contra aquele selar de pálpebras voltavam e eu erguia o queixo e seguia em frente.
Segui sempre aquilo que defendia e sem sequer perceber foi-me tornando mais forte, foi ganhando forças para batalhar contra mim próprio, foi compreendendo que até mesmo quem cego é consegue ver o mundo na sua essência e eu estava cansado de fechar os olhos todas as noites sem conhecer aquilo que outras já haviam tentado mostrar-me.
Os dias passaram e eu sem me aperceber consegui derrotar aquela vontade que me consumia já há muito tempo, os dias passavam e eu compreendia já que o mundo não é feito por pessoas tão perfeitas como aquelas que eu idealizava, mas sim composto por pessoas egoístas, pessoas capazes de tudo para atingir os seus fins e finalmente eu percebi que havia ajustado a minha visão e agora era capaz de avaliar as realidades que me envolviam.
Não posso afirmar que sou agora o falcão em busca da sua presa, mas agora consigo ver muito mais.
Não houve médico que me receitasse algo, não houve receitas caseiras, não houve mezinhas, ao invés disso, tomei boas doses de observação, paciência mas principalmente persistência
Diagnóstico passado: Estava apaixonado pela pessoa errada.

2 comentários:

  1. Gostei.
    Infelizmente à muita gente por aí que ainda sofre dessa cegueira! Admiro aqueles, que tal como tu conseguiram abrir os olhos sem precisar de “intervenção médica”.

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  2. Esse é o grande mal de muita gente é não perceber quando algo está errado...

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