26 março, 2011

Realidades

Olho na direcção do céu, a sua cor azul contrasta com o cinzento desta cidade, a cor que eu sabia que era predominante mas que nunca havia acreditado que esta seria mais um dos meus grandes desafios.
O pouco azul que se pode vislumbrar escapa por entre aqueles enormes edifícios que me rodeiam, estes são assinatura do progresso, do desenvolvimento mas também de um sonho, o sonho que estou agora a viver.
Nesta cidade onde toda a gente se desconhece, onde as rotinas que se cruzam não deixam marcas, onde cada dia é um dia diferente, eu vejo-me como apenas mais uma gota no oceano, mas mesmo assim sempre seguro quanto aquilo que me fez chegar a esta realidade.
Anos antes, eu havia parado para pensar, eu tive a difícil tarefa de decidir entre uma vida pacata e socialmente normal e uma vida longe de tudo cumprindo um sonho, a decisão de fácil pouco teve mas a segunda opção foi a escolhida e a partida para esta cidade era como a ida para o paraíso, o paraíso que em pouco tempo deixou de ou ser, não que viva no inferno mas muito foi preciso suportar para superar esta mudança.
Com o passar do tempo eu foi-me habituando a esta vida, a estas caras, a esta língua, mas contínuo com a escolha que fizera na cabeça, será que estaria melhor se assim não tivesse optado? É impossível responder a tal pergunta mas a certeza tenho de que se a escolha fosse outra estaria questionando a minha opção da mesma maneira.
Depois de tantos anos a viver a vida que sempre desejei, recordo agora os momentos antecedentes á partida, aqueles em que me questionei sobre tudo e mais algo, o momento em que tive medo de deixar tudo para trás, o momento em que me fez ter a certeza que iria ter saudades de tudo aquilo, e bem verdade foi, pois não poderia estar mais certo, tudo aquilo que deixei naquela terra me trás saudades, tudo aquilo que era a minha vida são agora apenas recordações, mas recordações que nunca esquecerei.
Esta cidade que escolhi é muito mais do que aquilo que esperava, por mais que a idealiza-se era impossível prever tal realidade, imaginar como seria esta realidade, mas ainda bem que assim sucedeu pois caso contrário não teria sido uma opção.
Poucas das minhas ideias eram reais, mas com mais ou menos persistência acabei por ficar, acabei por me enraizar, acabei por fazer desta a minha casa, e agora que olho para trás não consigo imaginar a minha vida num outro local.
De tudo aquilo por que passei, a que mais me orgulha foi ter tomado tal decisão, contra tudo e contra todos, mesmo até contra mim, que por medo também desejava não o fazer, porém o sonho que queria cumprir era mais forte do que tudo aquilo que me fazia ficar e assim vim cá parar, muito anos depois não me arrependo, e ainda com sonhos desejo que daqui por outros tantos o sentimento seja o mesmo relativamente aos sonhos de hoje.

by M.

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