10 setembro, 2010

Depois de perder

Nove da manha, o despertador toca. Normalmente o ruído é ensurdecedor e a horas bem menos simpáticas, mas hoje é sábado, é dia de descanso e de quebrar a rotina, pelo menos aquela vivida durante a semana.
Olho para o lado e vejo a mulher que sempre está ao meu lado, só ela me faz feliz, só ela me consegue dar o que mais ninguém dá. Esboço um sorriso enquanto penso no quão sortudo sou por ter ao meu lado, alguém que me faz tão feliz.
Lentamente levanto-me da cama, não tenho porque correr, não tenho nada para fazer por isso o lema hoje é, vai fazendo.
E é assim que vou fazendo, já na cozinha, preparo algo que acabe com esta nossa fome. O meu forte não é a cozinha, mas um homem não tem de perceber de tudo, de todos os modos eu desenrasco-me.
Pequeno-almoço na cama para a princesa, mas antes um acordar com um beijo tão apaixonado como aquele primeiro, como recompensa recebo um sorriso do tamanho do mundo, são estas pequenas coisas que me fazem com que tudo valha a pena.
Entre umas dentadas e uns amaços lá conseguimos escapar daquela rocambolesca prisão que é a cama.
A manha já quase se esgotara e a vontade para voltar aos tachos era nenhuma, decisão tomada, vamos almoçar fora! Destino, o mesmo de sempre, o restaurante na cidade vizinha que serve uns grelhados fantásticos, e claro uma saladinha para a madame.
Sem muito que se lhe diga a refeição foi como em todas as outras ocasiões, muito igual.
De regresso ao nosso lar, voltamos á mesma história, amaços atrás de amaços e acabamos debaixo dos lençóis, nada que um homem não goste muito menos quando tudo está em harmonia. Por ser sábado toda esta canseira termina num breve sono.
Acordo, percebo que já estou sozinho, levanto-me, procuro por alguém naquela casa habitada apenas por dois seres, não encontro, deve ter saído para comprar algo, pensei eu, Segundo pensamento, o sofá espera-me.
Ligo a televisão tentando encontrar a posição certa no sofá, no meio de todas aquelas almofadas. Vou mudando de canais em sinal de aborrecimento, finalmente canso-me e escolho um canal qualquer, mas nem me chama a atenção, acabo por adormecer novamente, acordo horas depois, quase noite e procuro novamente por ela com um gritar do seu nome, sem resposta novamente, fico intrigado, talvez preocupado, mas mantenho a mesma atitude.
Enquanto vou esperando pensamentos negativos começam a surgir na minha cabeça, tento abstrair-me de todos eles e aguardo quase serenamente, um outro pensamento entra na minha cabeça mas desta vez para tomar algo do meu tempo.
“Que dias tão aborrecidos, estes sábados são sempre iguais, sempre a mesma rotina, já não chega os dias da semana, passo as tardes de sábado aqui estatelado neste sofá só porque a madame se lembra de me deixar aqui sozinho, que neura, estou cansado disto”
Levantei-me, preparei-me para sair e aqui vou eu, contacto uns amigos para noite diferente e a muito custo lá tenho alguma companhia. Conversa puxa conversa acabamos todos num bar noite dentro, resolvo finalmente regressar a casa de partida.
Ao chegar a casa algo estava diferente, algo faltava ali, algo que normalmente estava e agora já não, faltava todas as coisas dela, estranho, pensei, tento contacta-la mas sem sucesso, ligo para pessoas conhecidas e nada, ninguém sabia do seu paradeiro.
A noite foi longuíssima e os dias que lhe sucederam foram ainda piores, cada dia que passava a saudade apertava mais, arrancava um bocado do meu coração cada memória que tentava recordar.
Os dias foram passando, as semanas, os meses, desde aquele sábado nada fora igual, eu já não era a mesma pessoa, tudo tinha mudado mas mesmo assim eu continuava naquele sofá deitado como se nada de interessante houvesse neste mundo, estava deprimido sentia a falta dela, sentia que os sábados já não eram a mesma coisa, mesmo que passasse o dia no sofá, no final do mesmo ela viria e eu alegrava-me, agora mantinha-me no sofá mas ninguém vinha para me consular, nunca percebera que mesmo passando momentos a sós acabaria mais tarde por ter a sua companhia, a sua amizade, o seu amor. Uma lágrima começava a escorrer-me pela cara quando oiço, M. acorda, acorda, já é tarde, estou farta de estar na cama, vamos fazer algo diferente! Vamos passear no parque!
Abro os olhos e lá estava ela com aquele sorriso pelo qual me apaixonei.

by M.

3 comentários:

  1. odiar alguém? sou incapaz de sentir esse sentimento. prefiro pensar que me são indiferentes.
    muito obrigada pelo comentário. nunca ninguém me disse que o amor era fácil, por isso nunca devia ter pensado isso.
    costumo ouvir muitas vezes que 'amar é sofrer', mas não sei se acredito a 100%.
    lindo texto, adorei cada palavra*

    ResponderEliminar
  2. eu só dou valor quando perco as coisas (pessoas)
    grande beijo.

    ResponderEliminar
  3. obrigado ana, continua a pensar assim, amar alguem é uma das coisas boas da vida, quando isso acontece ha que aproveitar, não te deixes ir a baixo...

    camila era esse o ponto onde queria chegar, só damos mesmo valor quando perdemos algo, ma pior que isso é as pessoas não admitirem depois que perderam

    ResponderEliminar